Por Susan Witte
As
recentes resoluções do CFM (Conselho Federal de Medicina), de
apoiar o uso compassivo do CBD, e da Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária), de reclassificar o CBD como uma substância
que possa ser prescrita por médicos indicam pouco avanço na luta
pelo direto de usar a canábis medicinalmente. As mesmas decisões,
entretanto, significam um grande sinal verde para empresas
interessadas em explorar o mercado do canabidiol, e a indústria já
tem se movimentado. Enquanto alguns pacientes declaram que os
extratos industrializados de CBD fazem maravilhas, outros reclamam do
preço abusivo e até duvidam da qualidade desses produtos. Será
esse o caminho mais seguro a ser seguido? Será o favorecimento da
indústria um mal necessário? Ou estaremos colocando pacientes em
uma situação ainda mais complexa?
Se
você está de alguma forma envolvido com o movimento pelo uso do CBD
medicinal, já deve ter ouvido falar em empresas com os nomes:
HempMeds, Dixie, Medical Marijuana Inc., KannaWay, KannaVest,
KannaLife, etc. Essas empresas se especializaram em vender “hemp
oil”, ou “óleo de cânhamo”, que segundo o rótulo é rico em
CBD e contém uma quantidade insignificante de THC, inferior a 0,3%.
Na verdade, todas essas empresas são dirigidas pelo mesmo grupo de
pessoas, uma combinação interessante entre traficantes e pessoas
sendo investigadas por diferentes tipos de fraude. Essas empresas
fingem se associar e comprar ações umas das outras para que sejam
valorizadas e consigam investidores. O mais interessante é que essas
empresas funcionam de um sistema de pirâmide, que vende mais para
seus colaboradores do que para o público externo, e funcionam à
margem da legalidade nos Estados Unidos.
Uma
pesquisa elaborada pela associação Project CBD, nos Estados Unidos,
trouxe à tona sórdidas revelações sobre o funcionamento dessas
empresas, que chegam ao Brasil através da HempMeds Brasil. Como a
HempMeds não tem autorização para vender medicamentos, os óleos
de cânhamo que produzem são vendidos como suplementos alimentares,
mas a empresa faz uso de “buzzmarketing”
para fazer uma publicidade focada em pacientes que precisam do CBD,
sobretudo crianças. Funciona da seguinte maneira: os representantes
da HempMeds oferecem o caro RSHO (Real Scientific Hemp Oil) de graça
para pais de crianças com epilepsia refratária, com a condição de
que eles contem para outros pais os benefícios do produto, postem
vídeos sobre o tratamento de seus filhos e passem a palavra adiante.
Como 10 gramas do produto chegam a custar 599 dólares, sem contar as
taxas e impostos da importação, muitos pais ficam felizes com o
acordo, sobretudo se o remédio tem ajudado seus filhos. A empresa,
portanto, consegue uma propaganda com relativamente nenhum custo para
empresa, para vender um produto para fins que ela não tem
autorização (ou controle de qualidade), usando pais e pacientes
desesperados. A prescrição desses produtos importados foi apoiada
pela CREMESP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo)
e pela CFM.
Existe um problema fundamental na produção do óleo de cânhamo: o cânhamo não é a melhor fonte de CBD. Trata-se de uma variedade da canábis comumente utilizada na fabricação de fibra vegetal, para a produção de tecidos, combustível, óleo de motor, mobília, etc. O cânhamo possui uma concentração mais baixa de canabinoides e, portanto, é necessária uma grande quantidade de planta para produzir algumas gramas de óleo. O cânhamo também tem a propriedade de absorver toxinas e metais do solo e, portanto, se for utilizado para consumo, deve ser plantado em solo orgânico, sem adição de pesticidas. Não se sabe ao certo de onde vem o cânhamo utilizado nos produtos da HempMeds; há rumores de que seja importado da China ou da Romênia. Grandes plantações de cânhamo, especialmente voltada para a produção de fibra, não tomariam precauções como utilização de solo orgânico, fertilizantes naturais e a não utilização de pesticidas, por uma questão de praticidade e custo. Dessa forma, há uma preocupação sobre a qualidade e a segurança do RSHO. Há relatos de crianças e adultos que tiveram fortes cólicas abdominais após consumir o óleo, que teve algumas amostras analisadas como contendo quantidades altas de metais pesados e hexano, um solvente industrial tóxico.
Existe um problema fundamental na produção do óleo de cânhamo: o cânhamo não é a melhor fonte de CBD. Trata-se de uma variedade da canábis comumente utilizada na fabricação de fibra vegetal, para a produção de tecidos, combustível, óleo de motor, mobília, etc. O cânhamo possui uma concentração mais baixa de canabinoides e, portanto, é necessária uma grande quantidade de planta para produzir algumas gramas de óleo. O cânhamo também tem a propriedade de absorver toxinas e metais do solo e, portanto, se for utilizado para consumo, deve ser plantado em solo orgânico, sem adição de pesticidas. Não se sabe ao certo de onde vem o cânhamo utilizado nos produtos da HempMeds; há rumores de que seja importado da China ou da Romênia. Grandes plantações de cânhamo, especialmente voltada para a produção de fibra, não tomariam precauções como utilização de solo orgânico, fertilizantes naturais e a não utilização de pesticidas, por uma questão de praticidade e custo. Dessa forma, há uma preocupação sobre a qualidade e a segurança do RSHO. Há relatos de crianças e adultos que tiveram fortes cólicas abdominais após consumir o óleo, que teve algumas amostras analisadas como contendo quantidades altas de metais pesados e hexano, um solvente industrial tóxico.
Apesar
do duvidoso funcionamento das empresas produtoras de óleo de
cânhamo, que tem sido erroneamente chamado no Brasil de óleo de
CBD, o governo americano concedeu à KannaLife, em 2012, uma patente
de número 6630507, que lhes assegura direitos exclusivos sobre a
produção de medicamentos à base de canabinoides. Trata-se de uma
licença exclusiva para a empresa desenvolver drogas para o
tratamento de encefalopatia hepática (danos cerebrais causados por
doenças do fígado).
Diversos
pesquisadores, sobretudo médicos como Paul Armentano e Sanjay Gupta,
defendem que a melhor fonte de CBD são as variedades de canábis
ricas em canabidiol, como a Charlotte`s Web, a Harletsu e a Avidekel.
Primeiro porque os efeitos do CBD são potencializados pelo THC,
ainda que em quantidades baixas – a Charlotte`s Web, por exemplo,
possui menos de 1% de THC. Além disso, a presença de outros
canabinoides e terpenos (substâncias vegetais) que também possuem
valor terapêutico podem auxiliar no tratamento do paciente. Essas
plantas também são fontes mais seguras de CBD, pois com a alta
concentração do canabinoide, pouca planta é necessária para a
produção do medicamento, permitindo um controle maior sobre o
produto e diminuindo o risco por intoxicação por agentes externos.
Muitos pacientes precisam de uma quantidade maior de THC para responder ao tratamento com extratos de CBD. O americano Jason David afirma que seu filho, Jayden, que possui síndrome de Dravet, não melhorou ao utilizar plantas com baixa concentração de THC, mas conseguiu se livrar de mais de 90% das convulsões com plantas com uma porcentagem moderada de THC. Liberar somente o CBD, portanto, exclui essas crianças da possibilidade de melhora. Outro grupo de pacientes que acaba sendo excluído nessa decisão são os que precisam de alta concentração de THC, como pacientes com câncer e esclerose múltipla – e isso inclui crianças. A liberação do CBD apenas, portanto, beneficia um número muito limitado de pacientes.
Muitos pacientes precisam de uma quantidade maior de THC para responder ao tratamento com extratos de CBD. O americano Jason David afirma que seu filho, Jayden, que possui síndrome de Dravet, não melhorou ao utilizar plantas com baixa concentração de THC, mas conseguiu se livrar de mais de 90% das convulsões com plantas com uma porcentagem moderada de THC. Liberar somente o CBD, portanto, exclui essas crianças da possibilidade de melhora. Outro grupo de pacientes que acaba sendo excluído nessa decisão são os que precisam de alta concentração de THC, como pacientes com câncer e esclerose múltipla – e isso inclui crianças. A liberação do CBD apenas, portanto, beneficia um número muito limitado de pacientes.
A
demanda é suficiente, no entanto, se o valor cobrado pelo
medicamento for alto, para trazer lucros significativos à indústria.
A GW Pharmaceuticals, empresa produtora do Sativex (spray de extrato
de THC), está em contato com a Anvisa desde antes das decisões de
reclassificação do CBD, segundo Maurício Cândido de Souza,
porta-voz da empresa. No ano passado, enquanto a Anvisa postergava ao
máximo a tomada de decisão em relação ao CBD, a GW realizava
testes clínicos envolvendo um novo medicamento chamado Epidiolex,
com altas concentrações de canabidiol purificado. Os testes em
crianças com epilepsia refratária têm apresentado bons resultados,
mas ainda faltam estudos para que o medicamento chegue ao mercado.
Esse medicamento pode não vir, no entanto, com um preço acessível.
A importação do Sativex, por exemplo, conforme apurado pelo site
Smoke Buddies (smkbd.com), pode custar mais de 30 mil reais, como já
acontece em outros países. O preço deve diminuir quando a empresa
entrar no mercado brasileiro, mas continuará sendo alto para a
realidade da maior parte das famílias brasileiras.

Um
estudo realizado em Israel, em 2014, por Ruth Gallily e colegas,
comparou os efeitos terapêuticos do CBD isolado e a variedade
da
planta chamada
Avidekel, que é rica em CBD, mas também contém uma série de
outros componentes naturais. A pesquisa constatou que a canábis em
sua forma natural é mais eficiente do que o CBD em sua forma isolada
no tratamento de doenças inflamatórias. Não faz sentido, portanto,
conceder o direito de monopólio de medicamentos a base de canabidiol
para empresas que pretendem vendê-lo
da forma mais lucrativa possível, se isso significa um medicamento
menos eficiente do que sua própria matéria-prima.
A
reclassificação do CBD, portanto, não é beneficial para a maior
parte dos pacientes; favorece empresas que visam o lucro; abre margem
para empresas que se aproveitam desse momento de transição e
funcionam de maneira duvidosa, colocando em risco pacientes sem muita
opção; permite que pacientes sejam “usados” para o interesse
particular de alguns; mantém os preços de produtos à base de CBD
lá no alto; e impedem famílias e pacientes de plantar a obra-prima
de seus tratamentos, favorecendo o monopólio da indústria. O mais
preocupante é impressão de que “o problema está resolvido”,
amenizando o apelo de ativistas e da mídia em favor de pacientes. O
problema está longe de ser resolvido, e a luta pelo acesso ao
tratamento com canábis toma novo fôlego e continua.
Se você é realmente jornalista e age de forma parcial, deveria investigar as fontes de suas leituras. O project CBD e suas alegações já foi provado falso. https://www.cashinbis.com/medical-marijuana-inc-project-cbd-clearing-the-air-around-rsho-uniting-as-an-industry/
ResponderExcluirIs it okay to post part of this on my website basically post a hyperlink to this webpage? cbd oil
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